sábado, 8 de fevereiro de 2014

Os Reis

-Os Reis

Europa, Século XIV
O ser errante encapuzado que semeia o terror nos viajantes de terras inóspitas à noite, que anda acompanhado da morte, cavalgando no seu cavalo de olhos vermelhos, suas asas negras magras e sombrias cobrem o horizonte, sua foice que faz tremer até o maior dos reis, mal os sabe que a após da morte irão para o seu reino de trevas. ”Pra cada vivo existem gerações de mortos” em qual reino você acha que é vencedor?Tudo um dia sucumbe, cai e morre, a única certeza que temos é que o fim é apenas a morte. Depois de tudo é meu reino dos mortos que sobrará quando nenhuma estrela mais brilhar,quando nenhuma palavra rimar,um dia tudo meu se tornará. Simples humanos mortais, vivam o quanto quiserem mais um dia todos serão meus para sempre. Nada vai importar no fim, seu dinheiro, poder, fama e beleza tudo vai embora, o que apenas te acompanhará na sua vida é a certeza de quem você pertence: A mim!Eu sou a morte, sou à noite, sou aquele que anda sobre o cavalo de olhos vermelho, minhas asas que cobrem o horizonte, e a foice que te atormenta, meu corpo esquelético e trêmulo como o som da “sua hora” chegando, sempre vai ser eu ao final da história. Sempre reinarei supremo sobre todos. Eu vejo quando você anda sob as luzes apagadas rezando para o seu criador por proteção, nada escapa do meu olhar frio e preciso, eu vejo você passar pelos cemitérios com medo, esse medo só me alimenta e me faz ser mais forte, me faz ver como você é fraco, já que tudo que pode fazer é ter medo, e não pode adiar o inevitável. Eu costumo ver os viajantes à noite nas suas vigílias, andando em seus cavalos indo para terras distantes, alguns têm guardas por todos os lados assim como os reis em suas viagens diplomáticas, pena deles que acham que podem atrasar minha chegada nem por um segundo só porque tem mais homens os “protegendo”. Caminho a uma colina alta vejo uma carruagem passando vejo apenas ladrões vestidos de nobres indo enganar as nações por todos os cantos,serei eu mal por livrar-me deles?Já que por causa deles muitos sofrem?Os reis que reinam sobre a alienação dos burros merecem ser ceifados?Ao continuar olhando a carruagem os vejo contando as moedas de ouro que possuem, se gabando de seu poder que foi apenas suor dos camponeses e seus impostos titânicos. O rei minos do primeiro círculo do mundo inferior àquele que julga no limbo todas as almas podres nas quais passam aos milhões dias e noite, me dá a ordem para ceifar esse barbudo ganancioso e enganador, vejo a alguns quilômetros de distância um rio no qual até os cavalos mais fortes não podem atravessar pelo maior esforço que fizerem. Decido abordá-los de uma forma inocente, tomo a forma de uma velha senhora anciã e cega para se aproximar da carruagem do rei. Enquanto ela para diante de mim lentamente em minha direção. O rei-enganador guarda suas fortunas em baús apenas por precaução por que até ele deve temer os perigos da noite não pode confiar em suas guardas. Ao verem que é apenas uma velha os guardas voltam com sua confiança sobre suas forças e altura diante de minha forma, perguntam-me o que desejo há essa hora no meio da estrada que liga os reinos vizinhos, respondo que queria conversar com o rei sobre o rio que divide o caminho à frente. Um dos guardas adentra a carruagem e conta ao rei à situação atual, o rei por sua vez desdenha da inteligência da senhora depois do guarda lhe dizer que era cega. Pobres homens que não querem enxergar o próprio mal que fazem. O rei aceita falar comigo, o que uma velha idosa e cega poderia fazer mal além de dirigir algumas palavras?Pensou ele. Logo com minha forma inofensiva digna de pena já que pela aparência é difícil dizer quantos anos tenho lhe pergunto o quão forte são esses cavalos que o sustentam sobre o chão. O Rei se ofende, pensa que é um absurdo duvidar da força e adestramentos dos cavalos reais. Responde com toda a confiança que são fortes o suficientes pra aguentar qualquer coisa!Pergunto se são fortes os suficientes para atravessar o rio, e o rei por não andar por essas terras com frequência duvida da existência do mesmo. Sua confiança em seus guardas e cavalos sobrepõe qualquer ideia de dar atenção às minhas palavras. Ele ri da minha cara e joga uma moeda de ouro para mim, como se estivesse fazendo uma boa ação para uma velho cigana louca. Diz que não é hora pra idosas dizerem bobagens ou duvidarem da força dos cavalos. Decide continuar em frente sem pensar em considerar a profundidade do rio, de longe volto a minha forma antiga encapuzada novamente sobre a colina alta de antes disposto apenas a observar o que farão esse pobres homens confiantes diante do majestoso e sombrio rio que percorre a terra sob a noite fria. O frio aumenta a cada passo que eles se aproximam do rio, o rei abusa dos casacos chiques e quentes que possui, se aquece como um bebê até a ponto de começar a ficar com sono, porém aquela dúvida sobre a velha senhora de antes continua pairando sobre sua cabeça. Que rio é esse do qual nunca ouvi falar?Pensa ele. Ao ver que a punição dos pecados desse homem estava chegando a seu destino volto à forma de anciã aparecendo à frente do rio, esperando eles com um sorriso no canto do rosto, ao chegarem às margens do imponente rio, se surpreendem ao ver que a idosa não estava mentindo sobre sua existência no caminho que liga ao próximo reino. Dessa vez grito alto para fazer eco entre as árvores e acordar os animais que ali habitam, pergunto se o rei estava disposto a seguir em frente sem pensar nas consequências e nos seres que habitam o rio, a força da correnteza, apenas pra provar sua confiança em suas posses. Ele assina seu contrato com o mundo dos mortos por mais uma vez deixar seu orgulho falar mais alto, decide ir com tudo, ordena que até mesmo os guardas subam na carruagem para não molharem suas roupas. Gesto ridículo de pensar já que seus súditos e camponeses mal tem uma roupa decente pra vestir. Os cavalos entram no rio sob as ordens de seus mestres, com um pouco de medo da força da correnteza. Mais uma prova de que até mesmo os animais são mais sábios com natureza do que os “poderosos” homens que os montam. Sumo da vista deles que a esse ponto já estavam com medo do que poderia acontecer. De repente os cavalos ficam incontroláveis no meio do rio, existiam buracos enormes nele, grandes o suficiente para tirar o equilíbrio dos pobres animais, que caiem dando um “mergulho” no rio se afogando fazendo a carruagem acompanhá-los em sua decida até a mais profunda parte do rio forte e sombrio. Enquanto gritava por sua vida, o rei percebia que não havia ninguém para socorrê-lo, apesar de seus guardas e cavalos fortes estarem lá ao seu lado. Percebeu tarde demais que a morte o havia avisado sobre o perigo de sua confiança excessiva em seus bens que agora não lhe serviam de mais nada além de “âncora” para seu túmulo gelado. Seu fim chegou antes do previsto, típico de humanos que nada podem fazer sobre seu destinado amaldiçoado, que não podem prever o que acontecerá no “dia de amanhã”. Vou até o limbo o primeiro círculo do inferno, acompanhar a pobre alma desse rei sem honra, traidor de seu povo, sua pátria, um adúltero, avarento e tantas coisas ruins que pesam na balança do julgamento do Grande Rei Mi nos “Aquele que dá a sentença de qual círculo do inferno os pecadores devem ir”. Após a alma do pobre rei, ficar frente a frente com Minos foi revigorante ver seu rosto de medo ao invés de ver sua confiança, que o trouxe ao seu destino. Minos pergunta ao rei humano como ele chegou ali no limbo o primeiro círculo, o rei com medo mortal cobrindo seu espírito diz que foi a morte disfarçada de senhora cega que o enganou tentando provocar duvidas em relação à força dos cavalos. Com uma gargalhada Minos questiona o que realmente foi à causa de sua chegada ao inferno, faz o rei lembrar que não importa o porquê de ter chegado hoje com ajuda da dona morte, e sim pelos erros do passado, seus pecados pesando na balança. Relembrando o tratado de paz desfeito com outros reis, as várias mulheres com as quais ele se deitou enquanto era casado, o quanto prezava o dinheiro e riquezas acima de tudo, quantas vidas inocentes foram tiradas em seu nome, o pecado da gula, avareza, traição, idolatria, luxúria, ira, ganância, heresia, violência, a fraude não foram os responsáveis pela sua chegada?O rei nada pode fazer ao ver que sua balança pesava para o circulo mais baixo do inferno: o 9º os dos Traidores, apesar de tantos crimes contra a humanidade ele traiu a si mesmo com seu excesso de confiança, e a Deus pelas suas heresias. Ele se juntará a Judas no lugar de tormento eterno, do lado do traidor de cristo, que traiu seu senhor por algumas moedas de prata. Eu a morte desde os tempos primordiais da humanidade vejo tantos casos parecidos, este é apenas mais um pra lista, e olha que não vai ser nem o último dessa noite. Pergunto-me quem pode ser o próximo pode ser você lendo esse texto não é?A sua balança está pesada?Será que ainda á tempo de escapar de sua condenação?Isso é pra pensar em outra hora, tenho que voltar a vigiar a noite dessa terra, procurar a próxima vítima. Sobrevoo os nove círculos com minhas asas passando pelos rios que os separam, rios que atormentam os pobres seres que estão condenados a esse lugar miserável. Não muito diferentes do rio do qual trouxe esse rei pra cá. Vejo tantas pessoas iguais ou até piores que ele e me pergunto como puderam ficar a vida inteira sem tentar buscar salvação. Tarde demais pra eles. Voto àquela colina alta de antes esperando novas almas para ceifar.

-Desejo sabedoria aqueles que leram até o final para refletir sobre seus atos creio que ninguém quer passar por isso, um recado da amiga de todos os vivos: A Morte, aquela que os espera desde o começo de suas vidas, aquela no qual todos vocês pertencem. Com amor Grim Reaper.

Nenhum comentário:

Postar um comentário