-Os Reis
Europa, Século XIV
O ser errante encapuzado que semeia o terror nos viajantes
de terras inóspitas à noite, que anda acompanhado da morte, cavalgando no seu
cavalo de olhos vermelhos, suas asas negras magras e sombrias cobrem o horizonte,
sua foice que faz tremer até o maior dos reis, mal os sabe que a após da morte
irão para o seu reino de trevas. ”Pra cada vivo existem gerações de mortos” em
qual reino você acha que é vencedor?Tudo um dia sucumbe, cai e morre, a única certeza
que temos é que o fim é apenas a morte. Depois de tudo é meu reino dos mortos
que sobrará quando nenhuma estrela mais brilhar,quando nenhuma palavra rimar,um
dia tudo meu se tornará. Simples humanos mortais, vivam o quanto quiserem mais
um dia todos serão meus para sempre. Nada vai importar no fim, seu dinheiro,
poder, fama e beleza tudo vai embora, o que apenas te acompanhará na sua vida é
a certeza de quem você pertence: A mim!Eu sou a morte, sou à noite, sou aquele
que anda sobre o cavalo de olhos vermelho, minhas asas que cobrem o horizonte, e
a foice que te atormenta, meu corpo esquelético e trêmulo como o som da “sua
hora” chegando, sempre vai ser eu ao final da história. Sempre reinarei supremo
sobre todos. Eu vejo quando você anda sob as luzes apagadas rezando para o seu
criador por proteção, nada escapa do meu olhar frio e preciso, eu vejo você
passar pelos cemitérios com medo, esse medo só me alimenta e me faz ser mais forte,
me faz ver como você é fraco, já que tudo que pode fazer é ter medo, e não pode
adiar o inevitável. Eu costumo ver os viajantes à noite nas suas vigílias, andando
em seus cavalos indo para terras distantes, alguns têm guardas por todos os
lados assim como os reis em suas viagens diplomáticas, pena deles que acham que
podem atrasar minha chegada nem por um segundo só porque tem mais homens os “protegendo”.
Caminho a uma colina alta vejo uma carruagem passando vejo apenas ladrões
vestidos de nobres indo enganar as nações por todos os cantos,serei eu mal por
livrar-me deles?Já que por causa deles muitos sofrem?Os reis que reinam sobre a
alienação dos burros merecem ser ceifados?Ao continuar olhando a carruagem os
vejo contando as moedas de ouro que possuem, se gabando de seu poder que foi
apenas suor dos camponeses e seus impostos titânicos. O rei minos do primeiro
círculo do mundo inferior àquele que julga no limbo todas as almas podres nas
quais passam aos milhões dias e noite, me dá a ordem para ceifar esse barbudo
ganancioso e enganador, vejo a alguns quilômetros de distância um rio no qual
até os cavalos mais fortes não podem atravessar pelo maior esforço que fizerem.
Decido abordá-los de uma forma inocente, tomo a forma de uma velha senhora
anciã e cega para se aproximar da carruagem do rei. Enquanto ela para diante de
mim lentamente em minha direção. O rei-enganador guarda suas fortunas em baús
apenas por precaução por que até ele deve temer os perigos da noite não pode
confiar em suas guardas. Ao verem que é apenas uma velha os guardas voltam com
sua confiança sobre suas forças e altura diante de minha forma, perguntam-me o que
desejo há essa hora no meio da estrada que liga os reinos vizinhos, respondo
que queria conversar com o rei sobre o rio que divide o caminho à frente. Um
dos guardas adentra a carruagem e conta ao rei à situação atual, o rei por sua
vez desdenha da inteligência da senhora depois do guarda lhe dizer que era cega.
Pobres homens que não querem enxergar o próprio mal que fazem. O rei aceita
falar comigo, o que uma velha idosa e cega poderia fazer mal além de dirigir
algumas palavras?Pensou ele. Logo com minha forma inofensiva digna de pena já
que pela aparência é difícil dizer quantos anos tenho lhe pergunto o quão forte
são esses cavalos que o sustentam sobre o chão. O Rei se ofende, pensa que é um
absurdo duvidar da força e adestramentos dos cavalos reais. Responde com toda a
confiança que são fortes o suficientes pra aguentar qualquer coisa!Pergunto se
são fortes os suficientes para atravessar o rio, e o rei por não andar por essas
terras com frequência duvida da existência do mesmo. Sua confiança em seus
guardas e cavalos sobrepõe qualquer ideia de dar atenção às minhas palavras. Ele
ri da minha cara e joga uma moeda de ouro para mim, como se estivesse fazendo
uma boa ação para uma velho cigana louca. Diz que não é hora pra idosas dizerem
bobagens ou duvidarem da força dos cavalos. Decide continuar em frente sem
pensar em considerar a profundidade do rio, de longe volto a minha forma antiga
encapuzada novamente sobre a colina alta de antes disposto apenas a observar o
que farão esse pobres homens confiantes diante do majestoso e sombrio rio que
percorre a terra sob a noite fria. O frio aumenta a cada passo que eles se aproximam
do rio, o rei abusa dos casacos chiques e quentes que possui, se aquece como um
bebê até a ponto de começar a ficar com sono, porém aquela dúvida sobre a velha
senhora de antes continua pairando sobre sua cabeça. Que rio é esse do qual
nunca ouvi falar?Pensa ele. Ao ver que a punição dos pecados desse homem estava
chegando a seu destino volto à forma de anciã aparecendo à frente do rio, esperando
eles com um sorriso no canto do rosto, ao chegarem às margens do imponente rio,
se surpreendem ao ver que a idosa não estava mentindo sobre sua existência no
caminho que liga ao próximo reino. Dessa vez grito alto para fazer eco entre as
árvores e acordar os animais que ali habitam, pergunto se o rei estava disposto
a seguir em frente sem pensar nas consequências e nos seres que habitam o rio, a
força da correnteza, apenas pra provar sua confiança em suas posses. Ele assina
seu contrato com o mundo dos mortos por mais uma vez deixar seu orgulho falar
mais alto, decide ir com tudo, ordena que até mesmo os guardas subam na
carruagem para não molharem suas roupas. Gesto ridículo de pensar já que seus
súditos e camponeses mal tem uma roupa decente pra vestir. Os cavalos entram no
rio sob as ordens de seus mestres, com um pouco de medo da força da correnteza.
Mais uma prova de que até mesmo os animais são mais sábios com natureza do que
os “poderosos” homens que os montam. Sumo da vista deles que a esse ponto já
estavam com medo do que poderia acontecer. De repente os cavalos ficam
incontroláveis no meio do rio, existiam buracos enormes nele, grandes o suficiente
para tirar o equilíbrio dos pobres animais, que caiem dando um “mergulho” no
rio se afogando fazendo a carruagem acompanhá-los em sua decida até a mais profunda
parte do rio forte e sombrio. Enquanto gritava por sua vida, o rei percebia que
não havia ninguém para socorrê-lo, apesar de seus guardas e cavalos fortes
estarem lá ao seu lado. Percebeu tarde demais que a morte o havia avisado sobre
o perigo de sua confiança excessiva em seus bens que agora não lhe serviam de
mais nada além de “âncora” para seu túmulo gelado. Seu fim chegou antes do previsto,
típico de humanos que nada podem fazer sobre seu destinado amaldiçoado, que não
podem prever o que acontecerá no “dia de amanhã”. Vou até o limbo o primeiro
círculo do inferno, acompanhar a pobre alma desse rei sem honra, traidor de seu
povo, sua pátria, um adúltero, avarento e tantas coisas ruins que pesam na
balança do julgamento do Grande Rei Mi nos “Aquele que dá a sentença de qual
círculo do inferno os pecadores devem ir”. Após a alma do pobre rei, ficar
frente a frente com Minos foi revigorante ver seu rosto de medo ao invés de ver
sua confiança, que o trouxe ao seu destino. Minos pergunta ao rei humano como
ele chegou ali no limbo o primeiro círculo, o rei com medo mortal cobrindo seu
espírito diz que foi a morte disfarçada de senhora cega que o enganou tentando provocar
duvidas em relação à força dos cavalos. Com uma gargalhada Minos questiona o
que realmente foi à causa de sua chegada ao inferno, faz o rei lembrar que não
importa o porquê de ter chegado hoje com ajuda da dona morte, e sim pelos erros
do passado, seus pecados pesando na balança. Relembrando o tratado de paz desfeito
com outros reis, as várias mulheres com as quais ele se deitou enquanto era casado,
o quanto prezava o dinheiro e riquezas acima de tudo, quantas vidas inocentes
foram tiradas em seu nome, o pecado da gula, avareza, traição, idolatria,
luxúria, ira, ganância, heresia, violência, a fraude não foram os responsáveis pela
sua chegada?O rei nada pode fazer ao ver que sua balança pesava para o circulo
mais baixo do inferno: o 9º os dos Traidores, apesar de tantos crimes contra a
humanidade ele traiu a si mesmo com seu excesso de confiança, e a Deus pelas
suas heresias. Ele se juntará a Judas no lugar de tormento eterno, do lado do
traidor de cristo, que traiu seu senhor por algumas moedas de prata. Eu a morte
desde os tempos primordiais da humanidade vejo tantos casos parecidos, este é
apenas mais um pra lista, e olha que não vai ser nem o último dessa noite.
Pergunto-me quem pode ser o próximo pode ser você lendo esse texto não é?A sua
balança está pesada?Será que ainda á tempo de escapar de sua condenação?Isso é
pra pensar em outra hora, tenho que voltar a vigiar a noite dessa terra, procurar
a próxima vítima. Sobrevoo os nove círculos com minhas asas passando pelos rios
que os separam, rios que atormentam os pobres seres que estão condenados a esse
lugar miserável. Não muito diferentes do rio do qual trouxe esse rei pra cá. Vejo
tantas pessoas iguais ou até piores que ele e me pergunto como puderam ficar a
vida inteira sem tentar buscar salvação. Tarde demais pra eles. Voto àquela
colina alta de antes esperando novas almas para ceifar.
-Desejo sabedoria aqueles que leram até o final para
refletir sobre seus atos creio que ninguém quer passar por isso, um recado da
amiga de todos os vivos: A Morte, aquela que os espera desde o começo de suas vidas,
aquela no qual todos vocês pertencem. Com amor Grim Reaper.
Nenhum comentário:
Postar um comentário